A COP30 e a Tentação Ditatorial do Governo Brasileiro
- Mario Cezar Nogales
- há 5 dias
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A COP30 e a Tentação Ditatorial do Governo Brasileiro
Por: Mario Cezar Nogales

A COP30, que será realizada em Belém do Pará, não é apenas um evento climático — é um espelho onde o Brasil se olha diante do mundo. E o reflexo que se projeta até agora é preocupante: improviso logístico, tarifas tensionadas e um governo que ameaça transformar livre iniciativa em moeda de troca política.
A promessa de 53 mil leitos soa mais como peça publicitária do que inventário real. Belém não dispõe dessa estrutura hoteleira formal; a conta fecha apenas quando se incluem cruzeiros improvisados, escolas adaptadas e até casas particulares convertidas em alojamentos temporários. Em outras palavras: o governo vende “hotelaria de qualidade”, mas entrega alojamento emergencial.
Diante da alta natural das tarifas, fruto de demanda explosiva em um mercado limitado, surgem vozes oficiais falando em “preço justo” e “abuso de poder econômico”. Esse conceito jurídico, elástico e subjetivo, abre espaço para arbitrariedades.
Pergunta-se: quem define o que é preço justo? O empresário que investiu seu capital ou o burocrata sentado em Brasília?
Quando o Estado se arroga o direito de dizer até onde vai o lucro aceitável, ele deixa de ser regulador e passa a ser tutor — ou pior, ditador.
É exatamente isso que vemos: uma tentativa disfarçada de controle de preços. Não há tabelamento formal, mas há pressão política e ameaça institucional. O resultado é claro: hoteleiros, que deveriam ser reconhecidos como parceiros do Brasil na recepção do evento, tornam-se vilões da narrativa governamental.
Tomemos o exemplo americano. Se uma COP fosse organizada em um estado pequeno, como Vermont ou Delaware, os Estados Unidos não tentariam impor tarifas, nem acusariam seus hoteleiros de “abusivos”. O que ocorreria é simples:
· O mercado se ajustaria.
· Os hotéis cobrariam de acordo com a demanda.
· Delegações se deslocariam para cidades vizinhas ou ficariam em acomodações alternativas, pagando o preço justo do mercado, sem intervenção estatal.
Não haveria gritaria sobre “abuso”. Haveria, sim, respeito à autonomia privada e confiança de que a lógica de mercado se encarregaria de equilibrar a oferta.
Essa é a diferença entre maturidade institucional e amadorismo governamental. Os EUA entendem que mercado é mercado; já o Brasil, em plena COP30, insiste em brincar de centralizador, como se estivéssemos sob tutela do Estado Novo.
O governo brasileiro se apresenta como democrata, mas suas atitudes revelam traços autoritários:
· Define arbitrariamente o que é “preço justo”.
· Cria soluções improvisadas que comprometem a imagem da hotelaria nacional.
· Transfere ao setor privado a responsabilidade de suprir uma demanda que o próprio Estado não planejou atender.
Isso não é apenas amadorismo logístico. É a semente de uma mentalidade ditatorial, que vê no empresário não um parceiro, mas um suspeito. Quando um governo acredita que pode ditar margens de lucro em nome da “justiça social”, ele abandona a democracia econômica e flerta com a imposição.
A COP30 é a chance de o Brasil mostrar competência e hospitalidade. Mas, ao invés de profissionalismo, o que se vê é um governo que improvisa leitos, ameaça empresários e brinca com a livre iniciativa.
A pergunta que fica é simples: este governo é apenas amador ou já ensaia sua própria cartilha de ditadura?
O mundo está assistindo. E, no fim, serão os hoteleiros — aqueles que realmente sustentam a hospitalidade do país — os julgados por uma vitrine internacional que deveria ser de orgulho, mas corre o risco de se transformar em vexame.
Mario Cezar Nogales – Consultor especializado em hotelaria, fundador da SN Hotelaria Consultoria Especializada, autor de livros e artigos voltados ao setor hoteleiro.
Saiba mais em: www.snhotelaria.com.br | Contato: mario.nogales@snhotelaria.com.br
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