Hotelaria - Um Setor em Alta Num País em Queda
- Mario Cezar Nogales
- 20 de ago.
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Hotelaria - Um Setor em Alta Num País em Queda
Por Mario Cezar Nogales - Consultor Especializado em Hotelaria

O Brasil vive uma das maiores farsas institucionais de sua história recente. Enquanto o país mergulha num ciclo de aumento de impostos, guerra tarifária internacional e desordem política que coloca em xeque o próprio conceito de república, o mercado hoteleiro segue aquecido. Parece até que estamos em dois países distintos: o da política caótica e o da hotelaria em alta demanda.
Comecemos pelos impostos. O Brasil é uma aberração tributária. Não à toa, dizem que o brasileiro trabalha cinco meses por ano apenas para pagar a farra estatal. E agora, nos vendem a ideia de que a criação do IVA, um imposto unificado, resolverá a bagunça. Resolver? O IVA proposto chega a 28%, o que na prática não é uma unificação, é um aumento. Quem tem hotel, restaurante ou qualquer serviço que dependa do consumo interno sabe o que isso significa: a conta vai para o cliente ou estrangula a margem do negócio. Não existe milagre.
Somemos a isso a guerra tarifária. Os Estados Unidos aumentam tarifas sobre produtos chineses por questões estratégicas e de soberania econômica. O Brasil, com sua vocação para o protagonismo infantil, resolve entrar no jogo retaliando os americanos, como se o nosso mercado fosse essencial para eles. É um jogo que nós sempre perdemos, porque o reflexo é o encarecimento de produtos importados, pressão no dólar e, por tabela, aumento do custo operacional na hotelaria. Da rouparia ao equipamento de cozinha, muita coisa tem peças ou insumos dolarizados. O resultado? Menos competitividade e mais dificuldade para o setor.
E se não bastasse o desastre econômico, vivemos sob uma desordem política travestida de democracia. A verdade é que o Brasil não tem três poderes funcionando de forma independente. Quem governa, de fato, é o STF. O Congresso virou um cartório de homologar interesses e o Executivo é um repositório de barganhas partidárias.
Estamos numa tecnocracia judicial, um poder moderador informal que dita as regras sem ter sido eleito. Isso é ditadura? Ainda não, mas é o caminho. E para quem investe em hotelaria, o risco é enorme. Qualquer decisão monocrática de um ministro pode mudar leis trabalhistas, regras tributárias ou contratos privados. O empresário vive sob constante insegurança jurídica, uma instabilidade que inviabiliza qualquer plano de longo prazo.
No meio desse caos, a pergunta é: por que, então, a hotelaria está em alta? Simples. Primeiro, porque o brasileiro desistiu de viajar para o exterior com o dólar nos patamares atuais. Segundo, porque há uma demanda reprimida do pós-pandemia. Casamentos, eventos, congressos, tudo voltou com força. Terceiro, porque o agronegócio, malgrado o preconceito urbano, sustenta o interior do país e, com ele, a demanda por hospedagem.
Mas não se enganem. Isso é efeito conjuntural, não estrutural. Sem reformas profundas, sem previsibilidade política e jurídica, a hotelaria vai murchar. Hoje está aquecida, mas com margens pressionadas. Amanhã, sem capacidade de investir, de renovar e de crescer.
E para piorar, atualizam normas como a NR-1, que deveria tratar de saúde e segurança no trabalho, mas virou um instrumento de controle estatal. O empresário precisa ser um especialista em burocracia para manter um hotel funcionando dentro da lei. Pequenas e médias empresas não têm estrutura para isso. No fundo, é uma forma velada de sufocar o setor privado para torná-lo refém do Estado. Um capitalismo de compadrio com tempero autoritário.
O que esperar dos próximos cinco anos? Depende das eleições de 2026. Um governo com viés liberalizante pode colocar o país nos trilhos, com reformas, desburocratização e incentivo ao turismo. Já um governo populista ou intervencionista seguirá elevando a carga tributária, intervindo no mercado e afastando o capital estrangeiro.
Para o hoteleiro que não quer ser pego de surpresa, o recado é claro: aproveite o ciclo de alta, fortaleça o caixa, diversifique o público, invista em eficiência operacional e acompanhe a política de perto. Porque uma coisa é certa: a conta da irresponsabilidade estatal sempre chega. E, infelizmente, quem paga é quem produz.
Este artigo é assinado por Mário Cezar Nogales, consultor especializado em hotelaria, autor de livros técnicos e referência no setor. Com uma visão prática, estratégica e resultado comprovado, Cezar ajuda gestores e equipes a transformarem desafios em oportunidades reais, com soluções sob medida para cada tipo de hotel.
Publicado na Revista Hoteis em 18/07/25 https://www.revistahoteis.com.br/?s=alta+no+pais+em+queda
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